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Foto do escritorAuro Valizi

O Português está na UTI


Estetoscópio
Crédito: freeimages.com

Nossas dificuldades com a escrita

Talvez eu receba algumas “pedradas” por escrever este artigo. Mas... preciso falar sobre isso.


A cada dia que passa tenho mais dificuldade para me comunicar por escrito com pessoas mais jovens. A Língua Portuguesa é complexa, e nem todos os que passaram pela escola conseguiram assimilar bem as regras gramaticais. Eu mesmo sou exemplo disso; tive minhas dificuldades com o Português e, portanto, minha escrita não é gramaticalmente perfeita. Se você for professor(a) de Português — ou mesmo não o sendo, dominar bem a gramática da nossa língua — provavelmente encontrará erros neste texto que está lendo.


Não ser bom em Português não é problema, desde que a pessoa consiga se comunicar, ou seja, se quem lê o que ela escreve, consegue compreender o que quis dizer. O que não deveria ocorrer é quando alguém lê o que a gente escreveu — uma simples mensagem ou recado, por exemplo — e exclama: Não entendi nada! O que ele(a) quis dizer?


Como funciona

Na comunicação oral dispomos de alguns recursos, tais como: a entonação da voz, pausas durante a fala e — em conversa presencial ou por vídeo — gestos e expressões faciais; isso possibilita uma melhor compreensão por parte do nosso interlocutor. Porém, na comunicação por escrito não dá para usar esses recursos da oralidade, tornando-se indispensável o uso correto da ortografia e da pontuação para fazer-se compreendido. Apenas para ilustrar, existem palavras que com acento gráfico significam uma coisa; e sem o acento, significam outra coisa. Há outras que, se escritas com a letra “s”, têm um significado; se trocarmos o “s” pelo “z”, muda o sentido. E por aí vai...


Quando me comunico por escrito, preocupo-me mais com a pontuação do que com a ortografia. Porque se eu escrever uma palavra errada, quem a ler talvez ainda consiga compreender a mensagem. Mas se eu escrever frases seguidas, sem nenhuma pontuação, quem a ler provavelmente não compreenderá; ou pior: entenderá tudo errado.


Minha dificuldade

Com raras exceções, as mensagens que recebo vêm da seguinte forma: uma sequência de palavras sem acentuação e quase nenhuma pontuação. Em algumas situações, até dá para deduzir o que a outra pessoa quer dizer. Mas em outras, nem com bola de cristal dá para adivinhar... Assim, está ficando cada vez mais trabalhoso “decifrar” o que as pessoas escrevem.


Preocupação

As pessoas mais idosas viveram em uma época em que era comum abandonar os estudos para poder trabalhar e ajudar a família. Sem falar naquelas pessoas que sequer foram alfabetizadas. Portanto, poucos anos de escola não foram suficientes para que elas aprendessem bem o Português. Por isso, é perfeitamente compreensível que algumas pessoas mais idosas tenham dificuldades com a escrita.

Nem com bola de cristal dá para adivinhar...

A minha preocupação é com os adultos jovens — que já passaram pelos ensinos Fundamental, Médio e até Superior. Apesar de terem mais escolaridade do que seus pais e avós, boa parte desses jovens adultos demonstra deficiência na comunicação por escrito. É claro que há exceções, pois sempre haverá aqueles com mais aptidão para o aprendizado linguístico, e que irão dominar bem as técnicas de escrita. Mas o fato é: cada vez mais me deparo com pessoas jovens (adolescentes e adultos) que têm dificuldades com a escrita. E não era para ser assim, pois essas pessoas são escolarizadas; a grande maioria delas concluiu o Ensino Fundamental, pelo menos. Sem falar nas que também cursaram o Ensino Médio e, algumas, o Superior.


Infelizmente, atingimos um nível de deficiência linguística tão evidente entre os jovens que passaram pela escola, que chega a ser um retrocesso da sociedade. Há poucas décadas, os filhos iam para a escola, aprendiam e ficavam mais sabidos que os pais, o que era motivo de muito orgulho para os seus genitores. Hoje, os filhos vão à escola, mas os pais (aqueles que tiveram a oportunidade de frequentar a escola) continuam escrevendo melhor, ou seja, os pais continuam tendo melhor domínio linguístico (no que se refere ao Português) do que os filhos.


É preciso que os estudantes aprendam — apesar das dificuldades individuais de cada aluno — a Língua Portuguesa, gostando ou não dela. Aliás, na minha opinião de leigo, acho que a Língua Portuguesa é a disciplina mais importante nos primeiros anos escolares, pois ela é que dá acesso ao aprendizado das outras disciplinas. Se um estudante não sabe escrever direito e tem dificuldade na leitura e interpretação de texto, como é que ele vai ler, interpretar e assimilar as informações e o conhecimento contidos no material de estudo das demais disciplinas? Certamente, o seu aprendizado será limitado por conta da dificuldade com o Português.


O que mudou?

Fico a pensar, cá com os meus botões: por que as pessoas da minha geração (e das anteriores) conseguiam aprender Português melhor do que as gerações seguintes? O que foi que mudou no sistema de ensino brasileiro nas últimas décadas, e que influenciou no rendimento dos alunos? Não sei! Não sou entendido no assunto. Mas algum especialista na área de ensino poderia nos ajudar a compreender essa questão. E para tal, o MISCELÂNEA coloca-se à disposição para compartilhar esse eventual esclarecimento.


Conclusão

Todo esse blá-blá-blá que escrevi foi para chamar à atenção uma questão que considero preocupante: grande parcela dos estudantes das últimas gerações não aprendeu Português direito. E receio que daqui a algumas décadas, meus textos parecer-lhes-ão escritos em grego, enquanto os deles parecer-me-ão escritos em mandarim. Ou seja, não vamos conseguir nos comunicar, nos entender...

Minha época de escola


As habilidades de uma pessoa diferem, em parte, das demais pessoas. Cada um é bom em alguma atividade. E essa multiplicidade de talentos e tipos de inteligência é que fazem o progresso da humanidade.


Assim, na escola há alunos que têm mais facilidade para aprender Matemática, enquanto outros aprendem mais facilmente Português, Ciências, Artes ou outras disciplinas.


Quanto ao Português, lembro-me de que na minha época de escola alguns poucos alunos da classe possuíam mais facilidade com a disciplina, enquanto outros poucos apresentavam muita dificuldade em aprendê-la. Contudo, o que desejo ressaltar é: a maioria dos alunos da classe, gostando ou não de Português, aprendia — e muito bem aprendido — o básico do idioma. O que isso significava? Que não se tornariam grandes “escritores”, mas conseguiriam se comunicar por escrito, de maneira clara e fazendo-se compreendidos. É o mínimo que se espera de alguém que concluiu o Ensino Fundamental, pelo menos.


Fui um aluno mediano e não gostava de Português. Mas consegui assimilar boa parte do que foi ensinado, porque as professoras eram “exigentes” com os alunos, e hoje sou grato a todas elas por isso. Eu gostaria até que tivessem sido ainda mais exigentes, “obrigando-me” a ler e escrever mais; certamente, eu teria desenvolvido bem mais a minha escrita.

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