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Um sonho não realizado

  • Foto do escritor: Auro Valizi
    Auro Valizi
  • 14 de out.
  • 4 min de leitura

A oportunidade de ouro perdida pela dupla Valizi & Valizinho



Desde o ano de 1952, a dupla “Valizi & Valizinho”, formada por mim e pelo meu irmão Osvaldo (em memória), se apresentava regularmente aos domingos no programa de auditório “Brasil Sertanejo”, da Rádio Cultura (Ituverava-SP). E como tínhamos muita vontade de seguir na carreira artística, queríamos ir para São Paulo, cantar numa rádio da capital, através da qual poderíamos conseguir projeção nacional.


Zé Valizi, em um passeio dominical pela cidade, aproveitou para registrar esse pé de ipê florido na avenida Orestes Quércia, em Ituverava-SP (Foto/crédito: Auro Valizi/setembro 2022)
Zé Valizi, em um passeio dominical pela cidade, aproveitou para registrar esse pé de ipê florido na avenida Orestes Quércia, em Ituverava-SP (Foto/crédito: Auro Valizi/setembro 2022)

Então, o nosso pai (Júlio Valisi) comentou com o senhor Herbaldo Martins (pai do compositor ituveravense Vitor Martins) sobre esse nosso desejo. O senhor Herbaldo conversou com o senhor Benedito Trajano Borges, que era fazendeiro, e este pediu para que nós o procurássemos. O Benedito Trajano havia se tornado amigo do então deputado estadual Condeixa Filho, e escreveu uma carta ao deputado recomendando a nossa dupla e pedindo que o deputado nos ajudasse a ingressar em uma emissora.


Com a carta em mão, partimos para São Paulo-SP em janeiro de 1958. Como não conhecíamos aquela cidade, o nosso primo Osvaldo Maniero (da cidade de Franca-SP), que já havia morado na capital paulista, acompanhou-nos na viagem até a Assembleia Legislativa. Lá chegando, o deputado Condeixa Filho nos recebeu e entregamos a ele a carta de recomendação. Ele a leu e nos perguntou em qual rádio a gente gostaria de ingressar. Dissemos que gostávamos muito da Rádio Nacional, porque nela havia um programa matinal do qual gostávamos muito. O deputado disse que na Rádio Nacional seria difícil, mas que ele poderia nos recomendar à Rádio Bandeirantes.


Assim, ele escreveu e nos entregou uma outra carta, recomendando-nos àquela emissora. Chegamos lá no dia seguinte e fomos recebidos pelo João Saad. Ele leu a carta e nos disse que não poderia deixar de atender ao pedido do deputado. O Saad disse-nos que, por ele, já poderíamos nos considerar ingressados na Bandeirantes, mas que existiam muitas duplas esperando uma oportunidade na emissora e que, portanto, ele não poderia passar por cima do diretor artístico-sertanejo da emissora, que era o Zacarias Mourão.


Mais tarde, o Zacarias Mourão nos recebeu. Quando adentramos a sala dele, onde eram realizados os testes, ele nos olhou e falou que a gente não lhe parecia ser estranhos; que ele tinha a impressão de já nos conhecer de algum lugar. Então lembramos-lhe que certa vez ele tinha ido a Ituverava acompanhando o Duo Estrela Dalva, que se apresentara num circo, num sábado à noite, e que no domingo o duo foi também se apresentar no programa Brasil Sertanejo, da Rádio Cultura, onde ele viu a nossa dupla se apresentar também.


Ele se recordou daquela ocasião e nos disse que nem precisávamos passar pelo teste, pois ele já tinha visto a nossa apresentação em Ituverava e que conhecia a qualidade da nossa dupla. Disse-nos ainda que estava prestes a lançar um novo programa, no qual o Duo Estrela Dalva iria se apresentar, e que iria nos encaixar no programa, para nos apresentarmos três vezes na semana. O programa estava previsto para estrear no mês seguinte, em fevereiro de 1958.


Enquanto aguardávamos o dia da nossa estreia no programa, ficamos hospedados em São Paulo, e todos os dias de manhã íamos assistir ao programa “Na Serra da Mantiqueira”, apresentado pelo Biguá, no auditório da Rádio Bandeirantes.


Faltando poucos dias para a nossa estreia na Bandeirantes, eis que o Valizinho (meu irmão e companheiro de dupla) adoeceu. Pegou uma forte gripe asiática e o médico recomendou que, devido ao clima desfavorável da capital paulista, seria melhor que ele voltasse para o interior, para se recuperar mais rapidamente.


Além do problema de saúde do Valizinho, recebemos uma carta de uma de nossas irmãs relatando que, desde que havíamos ido para a capital, a nossa mãe estava muito triste com a nossa ausência; que ela não se conformava de estarmos tão longe da família, e que não dormia direito e não vinha se alimentando bem. Diante do estado de saúde do Valizinho e das notícias sobre a nossa mãe, decidimos que o melhor naquele momento seria retornarmos para Ituverava.


Falamos com o Zacarias Mourão; ele compreendeu a situação, mas ressaltou que estaríamos abrindo mão de uma oportunidade de ouro. Mas que se quiséssemos voltar depois de alguns meses, nosso lugar no programa estaria garantido. E assim, faltando poucos dias para a nossa estreia na Rádio Bandeirantes, voltamos para casa e não mais retornamos à capital para usufruirmos daquela grande oportunidade. Acredito que se não fossem as circunstâncias desfavoráveis daquele momento e tivéssemos estreado no programa, teríamos conseguido a projeção e o reconhecimento artístico tão sonhado.


Mas quis o destino, se é que assim podemos dizer, me presentear, três anos mais tarde, com a oportunidade de apresentar um programa na Rádio Cultura de Ituverava: o “Fazendinha do Valizi”, que durante quatro décadas alegrou várias gerações, tornando-se um marco na minha vida e na história radiofônica de Ituverava.


Fonte: publicado originalmente em “Fazendinha do Valizi – Memórias de José Valizi”, edição 03, março/2015; revisado em outubro/2025.


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